Manifestação pacífica reúne instrutores e donos de CFCs para alertar sobre impactos da flexibilização nas autoescolas, na segurança do trânsito e no emprego.
Os Centros de Formação de Condutores (CFCs) de Pernambuco vão às ruas do Recife nesta quinta-feira (23) para protestar contra as novas regras propostas para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A mobilização é organizada pelo Sindicato dos Centros de Formação de Condutores de Pernambuco (SindCFC-PE) e pelo Sindicato dos Trabalhadores, Diretores e Instrutores de Autoescolas e Centros de Formação de Condutores do Estado (SINTRAINSTRU-PE). De acordo com as entidades, o ato será pacífico e busca defender a manutenção da obrigatoriedade das autoescolas e a valorização dos profissionais que atuam na formação de novos motoristas. O grupo pretende chamar a atenção do Governo Federal e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o risco que as propostas de flexibilização podem representar para a segurança viária e para o emprego no setor.
Os representantes dos CFCs afirmam que não se opõem à modernização do processo de habilitação, mas exigem que as mudanças sejam discutidas com a categoria. As entidades defendem a criação de um grupo de trabalho junto à Secretaria de Relações Institucionais para construir medidas que modernizem e desburocratizem o sistema, sem comprometer a segurança do trânsito nem eliminar postos de trabalho. Para o presidente do SindCFC-PE, Ygor Valença, o setor tem sido tratado de forma injusta no debate público. “O segmento vem sendo injustamente responsabilizado pelos altos índices de acidentes de trânsito no país. Acreditamos que o problema não está nas autoescolas, mas na falta de políticas públicas que priorizem a educação para o trânsito e o respeito às normas”, afirmou Valença.
A concentração do ato está marcada para as 10h, na Avenida Agamenon Magalhães, em frente à Fábrica Tacaruna, no bairro de Campo Grande, Zona Norte do Recife. O grupo ocupará duas faixas de rolamento e seguirá em direção ao Viaduto Joana Bezerra, passando até o Polo Pina, na Zona Sul. Na volta, o trajeto inclui paradas em pontos simbólicos da cidade: o antigo Bompreço do Parque Amorim e as avenidas da Soledade e Conde da Boa Vista, no bairro da Boa Vista. O encerramento está previsto para as 13h, em frente à Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), na Praça da República. Durante o percurso, o sindicato assegura que não haverá bloqueios totais das vias, garantindo a fluidez parcial do trânsito e o respeito às orientações das autoridades de segurança e mobilidade.
Os organizadores reforçam que a principal preocupação é com a qualidade da formação dos novos condutores, que, segundo eles, poderia ser prejudicada com o afrouxamento das regras para tirar a CNH. Além do risco de acidentes, há também o temor de desemprego em massa no setor das autoescolas, que emprega milhares de instrutores e profissionais em todo o estado. “Não estamos contra o avanço tecnológico, mas ele precisa vir acompanhado de responsabilidade. A formação de motoristas exige orientação técnica e prática, e isso não pode ser substituído por soluções improvisadas”, pontuou o presidente do SINTRAINSTRU-PE.
A categoria teme que a flexibilização das normas resulte em redução drástica da procura por autoescolas, o que afetaria diretamente a economia local. O setor, que já enfrentou perdas significativas durante a pandemia, agora teme um novo golpe caso as mudanças entrem em vigor sem diálogo com os profissionais. Segundo o SindCFC-PE, Pernambuco conta com centenas de Centros de Formação de Condutores ativos, responsáveis não apenas pela instrução técnica, mas também pela educação cidadã no trânsito. As autoescolas defendem que o modelo atual, embora passível de aprimoramento, ainda é o mais seguro para preparar motoristas responsáveis. “O trânsito brasileiro é um dos que mais mata no mundo. Reduzir a formação obrigatória é caminhar na contramão da segurança e da vida”, destacou Ygor Valença.
O protesto desta quinta-feira deve reunir dezenas de veículos de autoescolas, instrutores e funcionários uniformizados, portando faixas e cartazes com mensagens em defesa da categoria. A mobilização, segundo o sindicato, não tem caráter partidário e busca sensibilizar a população e os parlamentares sobre os riscos da flexibilização. “Nosso movimento é de diálogo, não de confronto. Queremos que o governo ouça quem vive o dia a dia das autoescolas e entende o impacto real dessas mudanças”, finalizou Valença.

